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domingo, 1 de junho de 2014

Amor, Morte, Luto e Superação

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Amor, Morte, Luto e Superação
 “A experiência do luto é poderosa. Assim também é a sua capacidade para ajudar a curar a si mesmo. Ao viver o processo do luto, a pessoa está se movendo em direção a um renovado senso de significado e propósito em sua vida.” (Wolfelt)

Amor

Nossa vida é uma sequência de ciclos que se iniciam e se encerram o tempo todo. E assim também são os nossos relacionamentos afetivos e amorosos. Lidar com o fim de um relacionamento, nunca é fácil e pode se tornar extremamente traumático de acordo com a situação, os envolvidos e a forma como o indivíduo lida com a dor da perda.

Todo relacionamento ao nascer, deve ser construído e desenvolvido respeitando os três pilares básicos de um relacionamento: respeito, confiança e admiração. Só assim, estes laços afetivos se tornaram firmes e sólidos.

Vale ressaltar que o respeito é o sentimento de estima pelas qualidades reais do outro que nos impede de fazer ou dizer coisas desagradáveis a alguém. É através desse sentimento que nasce a admiração, um apreço pela companhia, amizade e qualidades do outro. Onde impera o respeito, existe a admiração e nasce a confiança que a interrupção mesmo que temporária da incerteza relativa ao comportamento do outro.

A confiança é o elo que une estes três pilares e que desta forma simplifica as relações humanas. Todos os seres humanos necessitam ser admirados e sentir admiração por algo ou alguém. E todos sem exceção sentem medo de perder a admiração, o respeito e a confiança de outrem. Esses três pilares sustentam a força do amor, da amizade e dos laços afetivos, quando reforçam a necessidade que nós temos de admirar e sermos admirados apesar dos nossos defeitos. É a certeza de que a ponte que existe entre duas pessoas é forte o suficiente para aguentar vendavais.

Como uma flor que nasce em nosso jardim necessita de água e calor para florescer forte e bela, os relacionamentos amorosos precisam continuamente de cuidados e atenção para que não definhem. Para que a beleza e a pureza dos sentimentos não se esvaia com a rotina do dia a dia. Por isto, devemos alimentar e cuidar de nossos relacionamentos, para que se um dia o fim chegue, caso haja um fim, que este fim seja ameno e sem arrependimento de nenhuma das partes envolvidas em não ter dado o seu melhor. E é por isso que discutir o relacionamento de forma madura é tão importante, pois ajuda a evitar que o encanto do amor se perca e que o relacionamento seja envolto em uma fina camada de angústia e sofrimento.

“Palavras não mudam o mundo, mas te fazem refletir sobre cada atitude do seu dia.” SirFhodastic

Nenhum indivíduo consegue lidar constantemente com decepções, mentiras, egoísmos desmedidos, ciúmes intensos. Ninguém merece viver angustiado esperando ser abandonado pelo outro cada vez que se sentir ofendido por traições, agressões, promessas não cumpridas, falta de atenção. É por isto, que estes indivíduos precisam criar vínculos duradouros, se apoiarem e se respeitarem mutuamente. Para que a relação cresça e possa florescer com frutos saudáveis.

“Três palavras que mudam uma discussão e até mesmo uma vida: Reconheço, Errei, Perdão.” Rodrigo de Abreu

Morte

O comportamento egocêntrico de uma das partes ou de ambas as partes, onde cada um olha para seu próprio umbigo, ao invés de se reconhecerem como indivíduos unos que decidiram iniciar uma vida a dois, pode provocar conflitos emocionais tão intensos e avassaladores, que a relação que tinha tudo para dar certo pode chegar ao fim, por pura imaturidade e egoísmo.

É neste momento que a relação não perpetua, que os sonhos se perdem, os defeitos tornam-se mais evidentes, as qualidades menos visíveis e o sentimento perde força e morre. O grande problema é que nem sempre o amor morre para as duas partes, e aquela parte que ainda ama, se sente desestruturada.

 “E de repente as coisas mudam, palavras viram armas, coração vira vidro e não há mais nada a fazer. Feridas marcam e aquilo que se quebra nunca mais voltará ao seu lugar.” Maxsander Barros

E então vem o luto, a dor da perda. O sofrimento pelo abandono, pelos sonhos perdidos, pelas promessas desfeitas, pelo tempo desperdiçado. É a fase de luto, a dor pela rejeição. A fase mais significativa de todo o processo de perda que pode levar alguns meses até aproximadamente dois anos.

Muitos são os aspectos que podem influenciar o período do luto: a intensidade com que a pessoa vivência seus sentimentos, o significado desta pessoa na vida do indivíduo, o impacto das palavras e das situações que envolveram esse termino, traumas passados. Logo, o tempo de luto será determinado pelo preconceito que aquela pessoa possui em relação a perdas e seu modo particular de lidar com situações de crise. E comum que algumas vezes após este período de luto, alguns aspectos ainda fiquem mal resolvidos internamente. A verdade é que essa fase apesar de ter pontos em comum depende muito das circunstâncias da perda e varia de indivíduo para indivíduo, podendo durar anos.

“As pessoas mudam então você aprende a deixá-las ir, coisas dão errado então você aprende a apreciá-las quando estão certas. Você acredita em mentiras então eventualmente você aprende a confiar em ninguém além de você mesmo…” Marilyn Monroe 

Luto

É uma fase em que as pessoas ficam com a sensação de terem sido roubadas em algo a que tinham direito, uma sensação no peito de um mal irreparável, de que sofreram uma grande injustiça. Passam por um processo doloroso que envolve mágoa, rancor, medo da solidão, insegurança, sofrimento, revolta, raiva, culpa, depressão, isolamento. Esses sentimentos negativos, desencadeiam sintomas físicos e psicológicos de estresse. E então, estas pessoas adoecem, pois seus canais energéticos ficam bloqueados. E quanto mais uma pessoa nutre pensamentos pessimistas e destrutivos, pior ela se sente.

Há pontos em comum no processo de morte de uma relação, principalmente, no que se refere ao processo de luto e as suas fases: A primeira fase é o estágio de choque e negação, em que preferem negar a realidade. Felizmente, chega um ponto em que não há mais como negar essa realidade e então eles passam para o segundo estágio do luto, a fase da raiva, da revolta e claro de muita mágoa e ressentimento.

O ápice do desespero vem na terceira fase, conhecida como fase da negociação, em que o indivíduo negocia com as próprias emoções. É neste momento, que vem a depressão, os questionamentos e o sentimento de auto piedade: Por que comigo? O que eu fiz de errado? Onde foi que eu errei? Mas, ele me amava tanto...por que meu Deus, por que fez isso comigo? Por que ele foi tão cruel? Por que ele me enganou daquele jeito, eu não merecia? Faz parte deste processo, a busca por um culpado para a perda do amor. E então, inicia-se a negociação para que o outro reveja as decisões, o abandono e retorne.  O que dificilmente irá acontecer.

“As nuvens cheias de trevas e dor invadiram o céu e ele escureceu, não há luz, não há caminho a ser seguido, o chão se abriu entre meus pés. O amor morreu, e agora não sei o que fazer da minha vida. Como prosseguir com este vazio que habita dentro de mim? Os sonhos e promessas foram desfeitos e o mundo desmoronou diante dos meus olhos. Maldita expectativa!” (Trecho retirado do livro “A brisa e o furacão” , Khenya Tathiany – em construção).

A tendência natural do indivíduo neste momento crucial e cruel, em que ele não consegue compreender como o amor chegou naquele ponto é se retrair, se isolar do mundo, dos outros, é imergir em seu mundinho particular, uma bolha territorial em que o sofrimento, a dor e a solidão se fazem presentes. Este é o cenário do fim de um relacionamento, este é o luto vivido por alguém que não consegue compreender como o amor pode ter acabado, afinal, já dizia o poeta:

“Amor que amor, não acaba” - autor desconhecido.

Tendo esta premissa em mente muitos indivíduos não conseguem superar as fases do luto e avançar no processo de cura e superação. Muitos permanecem e retornam há fases já vivenciadas diversas vezes, buscando desesperadamente uma resposta para sua dor. Este é um momento de desolamento, tristeza, culpa e desgaste. E enquanto esse processo durar, a pessoa não consegue seguir em frente e se envolver emocionalmente com mais ninguém, pois está presa há lembranças de um relacionamento, de uma pessoa que não existe mais. São lembranças, algumas boas, outras ruins, mas, não passam de lembranças.

"Acho que a única razão de sermos tão apegados em memórias, é que elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado." Pretty Little Liars

E então, finalmente, chegamos à fase da superação, pois tendo em vista que o sofrimento é parte essencial da vida, essas situações de tristeza e frustração, podem nos proporcionar novas perspectivas de vida.  Esta fase pode ser encarada como um momento de introspecção, que serve para repensarmos nossas vidas, valores, sonhos, metas e decisões. Este é um momento realmente importante em que os sentimentos podem ser transformados, o pensamento reestruturado para que haja um crescimento espiritual e emocional.

 “O sofrimento faz parte de nossa vida. É como o sal da comida. As quantidades exageradas mudam o sabor e deixam o desgosto." Hugo Schlesing

Superação

Ao encarar os acontecimentos de forma madura e civilizada, a pessoa inicia a busca pela superação, dando continuidade ao processo de regeneração e libertando-se de expectativas irreais que só trazem frustação.  E então, a esperança se faz presente, a fase do luto se encerra e a pessoa volta a fazer planos, buscar novas metas e objetivos, começa a desejar o novo e desconhecido e continua sua caminhada em busca de um sentido maior para vida.

Vale frisar, que as fases vivenciadas variam de indivíduo para indivíduo. Existem diversas formas de se livrar de um trauma, há pessoas que fazem isto através da arte, dos estudos, do esporte, da profissão. Porém, se esta fase se prolongar é recomendável procurar ajuda especializada. Lembre-se que pode se tratar de uma reação patológica, em que a pessoa necessitara de terapia e ajuda de profissionais.  Enquanto uma pessoa se negar a sentir a dor da perda, permanecera confusa e sendo esmagada por seus sentimentos, a cura só vem a partir do momento em que ela se torna capaz de dar vasão a este turbilhão de emoções e sentimentos.

"Nossa vida é uma constante viagem, do nascimento a morte. A paisagem muda, as pessoas mudam, as necessidades se transformam, mas o trem segue adiante. A vida é o trem, não a estação." Paulo Coelho
“Escrever. Pois as palavras são fiéis, não mudam, mantêm a sua essência. Escrevo pois sou desacreditado nas pessoas, as palavras se tornaram minhas melhores amigas. Meus sentimentos para muitos é piada, mas todas as vezes que eu escrevo as palavras sorriem para mim, é como se elas dissessem: nós te entendemos. E isso é tudo para mim.” Pablo Reis Expresiones
Depoimentos:
Depoimento 1:
"Amigo só serve pra ser amigo...
É difícil se desapegar de algo ou de alguém. Sei que somos seres solitários e que nascemos e morremos sozinhos, não levamos nada e nem ninguém para outro plano astral. Sei também que o sentimento é cognitivo, temos que nos conhecer antes de nos envolvermos com outras pessoas. Mas, como muitos outros somos imaturos em nossas relações criando assim um circulo vicioso e degenerativo de relações mal sucedidas.
Entre meios aos meus fracassos amorosos atribuo a um “Grande Amigo”, algo que me marcou muito. Ia tudo bem em uma paquera de alguns meses, até o nosso trágico (Ou não) termino. Este meu amigo ao terminar comigo me disse uma frase a qual não esperava me marcar pela vida toda: “Gordo só serve para ser amigo.”
Parei, refleti, sai chateado. Confesso isto me abalou de uma forma tão grandiosa que não sei nem como explicar, após refletir esta frase por longos meses, hoje posso dizer que passei da minha fase de luto. Pois, finalmente, consegui tirar a conclusão que precisava para relacionamentos e aprendi também a conduzir relacionamentos.
Relacionamento nada mais é que relacionar com pessoa, você pode obrigar duas pessoas a conviverem, mas, nunca se relacionarem, é um pouco complicado, mas, a realidade nada mais é do que isto. Pessoas ficam juntas porque querem nada que se prende dura muito tempo. Então, antes de querermos nos prender a outra, pessoa devemos ter autoconhecimento e avaliar se aquela pessoa irá nos acrescentar algo.
Pessoas erradas virão para acrescentar, mesmo que seja com um desamor ou mesmo um relacionamento que não deu certo. Afinal, sem as escolhas erradas como daríamos valores às escolhas certas? "                          
                                                               Homem, 20 anos, estudante, solteiro.
Depoimento 2: 

"O que aprendi com relacionamentos?  
Relacionamentos perfeitos não existem, eu duvido da perfeição e admiro o imperfeito. A vida é feita de pessoas imperfeitas, repletas de defeitos e que se suportam em amor.
Esta é a verdade, suportar em amor é tentar equilibrar as coisas, os anseios, os desejos, as frustações;
Suportar em amor é se esforçar para ser melhor, se preocupar com o outro, ter respeito e consideração;
Suportar em amor é investir no outro, sem abrir mão da sua individualidade, sorrir junto, fazer cafuné de madrugada, dormir abraçadinho mesmo quando se está com raiva.
O que eu aprendi com relacionamentos?
A duvidar das pessoas, dos corações e das promessas e juras de amor, há ser desconfiada, receosa e estar sempre com um pé atrás.
Aprendi que não importa o quanto você ame uma pessoa, isto nunca será o suficiente se esta pessoa não estiver disposta a  lutar para que esta relação dê certo. Quando uma pessoa não quer estar ao seu lado, não há nada que você faça que a manterá ao seu lado.
O que eu aprendi com relacionamentos?
Que eu posso morrer todos os DIAS, quando as nuvens tomarem conta do céu  e ele escurecer. Mas, assim como o sol que se ergue a cada manhã, esquecendo da noite que passou...eu vou renascer!
Com apenas um sorriso, eu irei renascer, com apenas um ato de otimismo eu irei renascer, com uma força que exala de dentro do meu ser, eu irei renascer. Renascer cada vez mais forte, cada vez mais iluminada, porque não dizer cada vez mais bela. Ah! A maturidade é uma benção.
O que eu aprendi com relacionamentos? 
Como dizia minha amiga Lya Luft “A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranquilidade, querer com mais doçura.” O que eu aprendi com relacionamentos?  Que por mais que eu aprenda, sempre terei muito o que aprender!"
                                                                       Khenya Tathiany, analista de sistema.

Depoimento 3: 

"Câmera secreta...                                                               
Amei alguém por muito tempo, sem exigir nada, nem ao menos atenção. Passei por muitos anos vivendo de amor fraternal. Tentei manter as esperanças de encontrar alguém e ter um relacionamento sólido, repleto de carinho, cumplicidade e companheirismo. Se encontrei?  
Bem, não poderei responder. O que posso dizer é que, cada um traz em sua mente um ideal de relacionamento, não precisa ser um conto de fadas, tão pouco o inferno de Dante. Mas, tem que ter cumplicidade, gratidão, caráter, consideração e principalmente sensibilidade para lidar com a dor do outro.    
Sei que algumas pessoas amadurecem mais rápido que os outras. Mas, para assumir ou propor um relacionamento a alguém espera-se que o proponente tenha o mínimo de maturidade. Ser diferente também é valido, ninguém é igual a ninguém, ter pensamentos e princípios diferentes é normal, desde que tenham ideais em comum e que queiram construir algo juntos.  
Que as promessas, não sejam apenas palavras ao vento. Alguém já me fez acreditar que podia ser essa pessoa, não era quem eu amava. Mas, depois de tantas decepções pensei que talvez, dessa vez fosse diferente. 
Somos responsáveis pelas nossas escolhas, e eu escolhi ser feliz, abri meu coração e me deixei cativar. Se fui feliz, sim fui. Ou melhor não fui, não sei. Olhando para trás, eu não sei bem se aquilo era felicidade, sei que houve alguns momentos bons e outros nem tanto. Fizemos planos, mais dele do que meu, casar, ter um lar, filhos... etc. Mas, quando tudo pode dar certo é porque tem algo errado.   
Descobri que nos meus momentos de dor eu teria que fazer como a fênix, morrer e renascer das minhas próprias cinzas, estive a ponto de enlouquecer, ou talvez enlouqueci e não me dei conta. Sempre vivi de forma honesta, procurando ser transparente até mesmo nos momentos de dor. Mas, aprendi a duras penas que é preciso fingir.     
Então, encontrei um lugar, uma câmera secreta onde me refúgio do mundo, eu me volto pro meu eu interior e de lá volto renovada, um pouco mais forte, um pouco mais fria, um pouco menos crédula. Sinto que tenho um medo terrível de ver tudo o que eu acredito se transformar em pó. Abandono e solidão são monstros com os quais já convive e confesso que não aprendi a derrota-los.      
O futuro pertence a Deus, minhas experiências são minhas e o que posso dizer é que com os relacionamentos aprendi, que felicidade é um conceito variável e que as pessoas te feriram da maneira mais covarde possível, no momento em que te verem cair, então não caia, ou não as deixem saber que você caiu. "

                                                                Mulher, 31 anos, apoio acadêmico, casada.
Depoimento 4: 

“Uma grande mulher... 

O fim do relacionamento é algo que dói. Principalmente, quando a decisão sai de mim. Mas, neste caso, a decisão partiu dela. Não há nada de ressentimentos, ou raiva. Ela é uma grande mulher que eu desejo toda felicidade. Somente há uma boa relação quando os dois estão bem.
Meus relacionamentos não surgem de um dia para o outro. Então, o respeito sempre existe. A tristeza do fim, as noites mais frias são consequências dolorosas, mas, naturais.
Difícil é continuar a vendo, sempre bela, não poder acaricia-la quando a vejo triste. Mas, luto para manter sempre a admiração e o respeito, e as vezes a amizade.
Gosto de eliminar a tristeza sozinho, em um lugar tranquilo, onde possa pensar no que posso fazer; as vezes pode durar mais de um dia, um mês. Mas, não pode perdurar muito.
Depois desta "fase", é hora de sair com os amigos. Amizade é sempre importante.
E para terminar, se apaixonar novamente...
Hoje estou na fase de sair com os amigos. Apesar de sentir falta dela. Mas, estou a vendo mais feliz e isto é o suficiente para cicatrizar a pequena parte do coração que foi retirada.”
 
                                            Homem, 24 anos, solteiro, analista de de suporte.

  Depoimento 5: 
 
 "Anna - O diário de uma borderline 
Creio que todos nós em algum momento da vida passamos por alguma decepção afetiva amorosa, algumas pessoas lidam melhor com estas situações do que outras. Eu cresci acreditando em contos de fadas, amores eternos, que pessoas boas vão para o céu, que pessoas ruins ardem no fogo do inferno e pagam por terem se comportado mal, que Deus vê tudo de errado o que você faz, ah! e que conta para sua mãe; que se você deseja algo deve trabalhar para conquistar aquilo; roubar é pecado, desejar o mal pro outro também; inveja é um sentimento ruim; que meninas têm vagina e meninos têm pipiu; que brincar de médico não era permitido, que beijos tinham gosto de morango, que beijo é coisa intima você não devia beijar alguém se você não estivesse realmente interessado nela, que moças de família deviam se comportar para não ficarem mal faladas, que depois dos trinta quem não se casava ficava para titia, que o mundo se dividia em pessoas boas e pessoas más; que sexo só erra certo depois do casamento; que era errado dizer eu te amo há alguém que você não amava de verdade, que não devíamos usar as pessoas. Cresci acreditando que quem ama cuida e não abandona.

E por várias vezes eu fui abandonada, por amigos, amores, por tanta gente que até já perdi a conta. E cada vez que isto acontecia, eu me enfurecia diante da vida e demonstrava uma força e um ímpeto que fizeram com que as pessoas tivessem uma visão distorcida de mim. Quantas vezes fui considerada atrevida e petulante; Quantas vezes me disseram que eu não sabia me comportar em sociedade e que eu nunca iria crescer. Quantas vezes riram ao me dizer: “É você não leva desaforos para casa, não é mesmo?”, se divertindo cada vez que eu me metia em alguma confusão.

Eu perdi as contas de quantas vezes as pessoas usaram os meus defeitos ou meu modo de ser para justificarem seus próprios erros, suas atitudes antiéticas e sua falta de caráter. Quantas vezes eu estava certa, para falar a verdade na maioria das vezes estava lutando por algo a que eu tinha direito, mas sempre conseguiam me fazer passar por errada por causa de um olhar fulminante que aparece cada vez que eu me sinto injustiçada, traída, ferida, cada vez que machucavam alguém que eu amo.

Perdi as contas de quantas vezes minhas “amigas” riam se divertindo ao dizer: “Anninha esta, com sangue nos olhos!”, uma alusão a toda revolta, angústia e ira que dominava minha feição quando alguém me feria. Eu era uma vítima perfeita para levar a culpa por tudo, pois sempre era a pessoa que não sabia se comportar e que precisava aprender a ter um pouco mais de respeito pelo sentimento do outro; mas, que ninguém tinha respeito pelos sentimentos. Sim, eu era aquela pessoa que não sabia mentir, que não conseguia dissimular, que não conseguia disfarçar as emoções. Sim, eu continuo sendo aquela pessoa.

Eu sou aquela pessoa a quem disseram: Você não deu nem deu chance para a menina se explicar. Chance? Será que as pessoas perderam a memória, o senso critico, ou sou eu que deixei de acreditar em contos de fadas? A gente não perde a confiança nos outros de um dia para noite, são uma sequência de acontecimentos que fazem com que nos passemos a duvidar do caráter do outro. Contra fatos, não há argumentos. Se a máscara caiu, não dê desculpas esfarrapadas, simplesmente reconheça seu erro. Isto para mim já seria o suficiente.

Eu era aquela pessoa que ouvia, eu sou aquela pessoa que sempre ouve: Você é forte, não precisa de ninguém. Vai superar! Os outros eram sempre os coitadinhos, que mereciam piedade por suas ações erradas. Eu não, mesmo sendo vítima, no final eu sempre era tachada como culpada. É o mais engraçado de toda esta situação, seria cômico se não fosse trágico, nunca houve uma pessoa em toda minha vida que duvidasse do meu caráter (até eu me desentender com um cara por quem eu estava interessada e horas depois ele me ver de mãos dadas com outro, detalhe o outro era meu amigo de toda vida e estava me consolando. Eu estava muito irritada para tentar explicar a situação. O meu melhor amigo é gay, mas, acho que ninguém acreditaria se eu contasse. Bom, paciência!), quantas vezes me disseram que eu tinha um senso de justiça aguçado e eu perdi a conta de quantas vezes se aproveitaram disso.

Como pode uma pessoa ser justa e ter caráter e ao mesmo tempo ser considerada atrevida, narcisista, franca, petulante? Como pode uma pessoa ser considerada boa, e ao mesmo tempo lhe atribuírem tantos defeitos e lhe encher de tantas críticas destrutivas? Porque críticas são bem vindas, quando você está disposto a ajudar o outro a crescer. Criticas são validas quando levam o outro a evoluir e não quando tem o intuito de só deixar o outro para baixo, para que você se sinta em paz com sua consciência pesada por ter feito algo errado. É muito fácil não assumir sua parcela de culpa pelo fracasso da relação, uma relação é feita por duas pessoas, não por apenas uma. Então, é muito injusto atribuir o fim de um relacionamento a somente uma das partes envolvidas. É mais digno e justo, cada um assumir sua parcela de culpa, pois só assim ambas as partes irão encontrar algum crescimento espiritual, intelectual e emocional e só assim o outro poderá passar pelo luto da perda, sem pular nenhuma estágio desta fase.

Sabe o que mais me incomoda, é saber que a grande maioria das pessoas que passaram pela minha vida, se lembraram de mim assim, uma pessoa extremamente franca. Porém, poucas irão reconhecer o quanto eu mudei, o quanto evolui. A franqueza não é uma qualidade, dizer o que pensa o tempo todo, não é a melhor prática da boa vizinhança que se pode ter, hoje compreendo que existem formas e formas de dizer a verdade sem ferir o outro e sem lhe colocar em situações embaraçosas e desagradáveis.

Creio que hoje eu sou muito mais sincera do que franca. Encontrei pessoas dispostas a me ajudar, que me mostravam a maneira mais sociável de me comportar, a vida tem me ensinado através destas pessoas e das experiências que eu tive a ser mais tolerante. Mas, não se iluda eu também tenho meus momentos de fúria, desespero, infortúnio e dor, por mais que eu sempre carregue um sorriso nos lábios, um ar de deboche na cara e passe a impressão de uma fé inabalável que amanhã sempre será um novo dia.

Hoje compreendo que essa carapaça que usei e ainda de certa forma uso em torno de mim, nada mais é do que uma armadura, um muro que criei em torno de mim mesma para impedir que se aproximem, para impedir que me machuquem. São reflexos de situações mal resolvidas de um passado distante, uma história de dor, abandono e rejeição. É difícil para uma criança de dez anos de idade compreender o porquê seu pai a abandonou, porque de uma hora para outra deixou de ama-la? Acho que a gente fica se perguntando bem lá no íntimo, o que foi que fizemos de errado para pessoa ir embora. Sei lá!

E você se comporta como uma boa garota, claro tem defeitos, mas quem não os tem? Mas, como tudo na vida acontece não se pode fugir do amor para sempre e então um dia você conhece um cara...

E o amor nasce te envolve, te enche de promessas e sonhos. Te faz acreditar que você é a pessoa mais especial do mundo e que nunca irá te abandonar. Depois vira as costas e vai embora como se todo aquele sentimento não significasse nada. Ele te diz que não tem tempo para você, que quem sabe um dia. E então, ele te fere.

E os suas cicatrizes a tanto esquecidas, voltam a sangrar com uma força tamanha que você não consegue se desvencilhar dos laços de sofrimento, dor e angustia que te levam sempre a um mesmo cenário desolador, onde você sempre se encontra sozinha, sem ter para onde correr e a quem recorrer. E então, você deixa de acreditar nas pessoas, você deixa o amor de lado e investe em outra área da sua vida, porque você não quer mais criar expectativas frustradas em relação a atitude ou falta de atitude do outro, você não quer passar por mais uma desilusão, sofrer mais um abandono. Você está muito ferida, para voltar a acreditar que tudo tem uma hora certa para acontecer.

A verdade é que o medo me paralisava, o medo me paralisa, o medo sempre me paralisou. Mostrar-me fraca e delicada aos olhos do outro e ser julgada por precisar de atenção, carinho e amor.

Então, hoje compreendo que estas posturas estavam não só ligadas a uma falta de maturidade e de experiência de vida, mas são também reflexos de traumas da minha infância. E então, quando você se envolve em um relacionamento você busca alguém que o proteja, lhe coloque no colo de vez enquanto e que compreenda que você precisa de tempo para crescer. O grande problema é que as pessoas do mundo contemporâneo não tem mais este tempo, ou não estão dispostas.

Os traumas e a carência afetiva provocadas por um abandono é algo terrível, só que não dá para ficar se fazendo de vítima o tempo todo e particularmente eu não gosto e nunca gostei de que me olhassem como se eu fosse digna de pena.  Não levo jeito para Mártires. Tenho meus defeitos, inúmero para ser mais sincera, mas sempre gostei das coisas certinhas, corretas. Sempre parti do princípio que caráter ou você tem, ou você não tem.

Se prometeu, cumpra! Se pegou emprestado, pague. Se diz que ama, demostre. Se tem interesse, corra atrás. Se errou, assuma seu erro, ao invés de se fazer de vitima e tentar colocar a culpa no outro. Se não gosta, fale. Eu não tenho uma bola de cristal para saber que você ficou magoado com algo que eu falei, mas, por favor, não se faça de vitima, porque meu senso crítico é aguçado e eu aprendi a analisar as pessoas. Se quer saber, pergunte! Se chorar, eu vou chorar com você. E vou falar um monte de bobagens até arrancar um sorriso dos seus lábios. Eu posso estar mal, mas sempre terei uma palavra amiga para lhe consolar.

Eu cresci, e não adianta tentar me fazer culpada por coisas que eu não fiz. Eu não vou assumir a culpa pelos seus erros, pelos seus roubos, por seu egoísmo, pela sua falta de ética, por suas ameaças veladas, pela sua falta de atitude, pela sua falta de hombridade, pela sua falta de querer.

Eu sei que quando você me disse que não queria causar estresse na sua relação com ela, ela já estava com outro faz tempo. Eu sabia que você mentia, se eu cancelei nosso café não foi por falta de amor, foi porque naquele momento mais uma vez você me provou que você era muito pouco homem para mim.

Eu amadureci, e tenho discernimento para avaliar uma situação, eu sofri e com o sofrimento aprendi a não viver só de ilusão. Eu preciso de um homem ao meu lado e não de um moleque, não tenho tempo a perder com quem não sabe o que quer da vida, que usa as pessoas para satisfazer sua carência emocional e sexual e depois descarta como se fosse um objeto velho que merece ir para o lixo. Se você não percebeu, eu tenho sentimentos. As pessoas têm traumas e fantasmas internos, sabia? Eu não preciso que você me dê mais alguns.

Ainda sim, tenho que agradecer muito a Deus, pois tenho encontrado pessoas boas em meu caminho e aprendido com meus erros. É um processo doloroso de crescimento, mas extremamente necessário para que possa evoluir.  Hoje levo comigo como inspiração, um poema de Verônica Shoffstall, erroneamente atribuído a Shakespeare: “Um dia a gente aprende que...”. (trecho do livro “Anna – O diário de uma borderline”, Khenya Tathiany – em construção.
 
Para finalizar: 

 “Um dia a gente aprende que...

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se, que companhia nem sempre significa segurança, e começa a aprender que beijos não são contratos, e que presentes não são promessas.
Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança; aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo, e aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais, e descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destrui-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida;
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida, e que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que eles mudam; percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começa a aprender que não se deve compará-los com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas onde se está indo, mas se você não sabe para onde está indo qualquer lugar serve.
Aprende que ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências. Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se; aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou; aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha; aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens; poucas coisas são tão humilhantes... e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando se está com raiva se tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.
Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém; algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás, portanto, plante seu jardim e decore sua alma ao invés de esperar que alguém lhe traga flores, e você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
Descobre que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.”
                                                                                                  Verônica Shoffstall

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